Life in a glasshouse

Uma das canções que transformou o quinteto de oxford em vanguarda, reparem como ela destoa - harmonicamente e conceitualmente - de todo o resto do disco e da discografia da banda.
A canção é construida cheio de espaços vazios, enchertada de trompetes e saxofones guturais.

O título: "Vida numa casa de vidro" traz uma metáfora interessante.
A idéia de casa é de abrigo e proteção, lugar onde o individuo se sente bem, no seu canto, então quando se traz a ideia duma casa de vidro, tudo é exposto, a sua vida, você mesmo se torna palhaço do se prórpio circo, num macabro baile de sadismo.
Toda a sensação de conforto e proteção é derrubada.
Thom Yorke assim como Kafka "é um homem nu entre os vestidos."

No seu condomínio, ou melhor dizendo, no seu cativeiro psicológico ele parece ser o único sem lugar para se abrigar e se esconder dos seus demônios.
Alguém sempre está ouvindo.... na escuta.

Alguém sempre está espiando, falando.
Dessa forma Yorke fez valer a tese do George Orwell.

Certa vez Thomas disse que o "Amnesiac" era algo como um baú velho encontrado no porão,
pois bem, essa afirmação encontra seu ponto de ebulição justamente nessa faixa genial
onde, toda essa atmosfera old school, jazzista, retrô
é elevada ao máximo.

Fica a dica.

Bem interessante sua análise (s) Mat!

Mat, ótima tua interpretação, eu vejo por aí também mas além da exposição existente na casa de vidro, vejo também uma enorme fragilidade que ela representa ainda como uma dupla metáfora, porque quem constrói sua própria vida sobre uma casa de vidro, não pode questionar as coisas que estão acontecendo fora dela porque tem medo, tem medo que alguém de fora venha e derrube essa casa(atire pedras), esmague: "You should turn the other cheek"..."Don't talk politics and don't throw stones".E assim aceitamos que o patrão nos humilhe, que o marido bata em sua mulher, aceitamos e nos sujeitamos, para mim viver numa casa de vidro é antes de tudo viver com medo. Os trompetes revelam essa atmosfera.

Confirmaria o poder que Orwell em sua obra confere ao Estado...não só o Estado manipulador e vigilante, mas vejo também um Estado Hobbesiano, do Leviatã, e uma sociedade passiva e alheia a própria vida.

Uma política do terror, em que grande parte a própria sociedade é culpada..."Once again, we are hungry for a lynching", porque se de um lado existe a produção de violência por outro existe o sentimento inesgotável de vingança privada, de punição que para muitas pessoas se encerra com a morte.

Life in a glasshouse é outra canção significativa, fecha de forma brilhante o Amnesiac e prepara os ouvidos atentos para a chegada do HTTT, ela mais uma vez dá indicações do que está por vir no próximo álbum.

Valeu Ru e thami por comentarem.
Aliás, thami, vc como sempre, muito eloquente!

Essa dupla metáfora que vc coloca é muito interessante do ponto de vista existencial para quem vive numa casa de vidro, que subentende-se como a alma do eu lírico como a sua prisão e tortura (ou seja, ele não pode largar-se disso). Uma coisa que sempre vem a minha cabeça quando ouço essa música é o conto "Um artista da fome" do Kafka, aliás o amnesiac é todo kafkiano, no conto um homem é famoso por submeter-se a um estado coletivo de humilhação onde ele fica numa gaiola sem comer por dias e as pessoas assistem isso louvando-o. A partir do momento que ele perde a capacidade dessa técnica, é esquecido e substituído por uma pantera faminta.

Então, enxergo o thomas dessa forma nessa música. Um homem exposto, sofrendo, que esta prestes a ser esquecido e, com medo dessa represália, começa a fantasiar sorrisos, e a "forrar as paredes".

Gostei da sua crítica, Thami. Concordo com a coisa da "exposição" e "vulnerabilidade" na letra de Glasshouse.

A Les falou sobre o que o Thom teria dito sobre ela, não saberia repetir tudo, aliás, a Les anda sumida, não?

há tempos ñ ouço o amnesiac
ótima pedida pra esses dias de inverno

Tá frio mesmo!
Amnesiac pra todos os dias, mas pra hj, eu recomendo o IR, pular bastante para esquentar

queria saber o q ele diz com "mais uma vez,estamos famintos por um linchamento" ._.

R.ಠ_ಠ escreveu:

queria saber o q ele diz com "mais uma vez,estamos famintos por um linchamento" ._.

Renato, não dá para saber exatamente o que ele quis dizer( a não ser que eu conversasse pessoalmente com Thom ), mas interpreto dentro do contexto da estrofe

"Once again, we are hungry for a lynching
That's a strange mistake to make
You should turn the other cheek
Living in a glass house"

Ele está sendo irônico nesta passagem, é aquela coisa de fazer justiça com as próprias mãos, de se vingar, normalmente quando há crimes que chocam a sociedade as pessoas lincham o criminoso em público, é o que se chama no Direito Penal de vingança privada, algo que caberia ao Estado apenas..mas Yorke faz um joguinho dentro desse período, ele diz que estamos famintos por um linchamento mas que não é uma escolha inteligente a se fazer, ele brinca com a passagem bíblica na qual Jesus dá a outra face para bater, é como se dissesse que queremos fazer justiça com as mãos mas não devemos, seria uma contradição querermos nos vingar porque vivemos numa sociedade onde a qualquer momento a minha atitude pode se voltar contra mim, porque vivemos expostos, e controlados numa casa de vidro,você perde sua segurança quando ousa mexer com quem está fora, quando você ousa sair dos padrões ou desafiar de alguma forma o Estado, mas creio que ele foi muito mais irônico, é característica do Thom usar desses tipo de ironia. Se não concordar pode falar, mas é por aí que vejo esses versos.