Resenha
Por Alex Barsan
Era fevereiro de 1993 quando Pablo Honey foi lançado. Radiohead se tornou uma das bandas mais inventivas do rock até hoje e seu álbum de estréia tinha tudo para não ser notado, pois, segundo a crítica britânica, se trataria apenas de mais uma bandinha e mais um disco sem futuro para cena “brit pop” da época. Era pra ser só mais um disco de rock entre tantos outros, mas, a história, a começar deste disco em especial, provou justamente o contrário.
Pablo Honey é o álbum do Radiohead que certamente está há galáxias de distância de seus sucessores, sobretudo, em matéria de harmonia, melodia e arranjos, é tecnicamente pouco produzido, e segue uma linha sonora que vai mesclando climas bem intensos, com momentos de aparente calmaria, guitarras distorcidas e viajantes – tipo Sonic Youth, Pixies e Nirvana. Compostas por Thom Yorke (vocal e guitarra), Ed O’brien (guitarra), Jonny Greenwood (guitarra), Colin Greenwood (contrabaixo) e Phil Selway (bateria), no estilo noise rock, com uma bateria simples, mas, vigorosa e um contrabaixo que segura bem à onda, em 12 canções de teor altamente introspectivo.
You é a faixa que abre o disco. Com um dedilhado simples, mais tarde ela segue com guitarras dilacerantes, tem Blow Out e sua batida meio bossa nova misturada com uma barulheira e um final apoteótico, além das belas baladas I Can’t e Lurgee.
Se na parte musical Pablo Honey pode parecer tosco e sem novidades, as letras do até então desconhecido gênio Thomas Edward Yorke, sem dúvida já se apresentam com um merecido destaque. São situações que perpassam por sentimentos de dor, angústia, sofrimento, existencialismo e inconformismo. Thom Yorke consegue ser irônico e sarcástico (Ripcord, How Do You? Prove Yourself, Anyone Can Play Guitar), até mesmo na forma como ele emprega seus vocais. Thom Yorke escreve de forma sincera e honesta com seus sentimentos, ele deixa bem claro seu jeito introspectivo, seu pensamento existencialista, sua inquietação em torno de seus desejos e suas frustrações que vão sendo exibidos de forma autobiográfica. Ele faz isso muito bem, em frases como “eu não sou um vegetal, não vou posso me controlar” (Vegetable), ou “eu me acabo e sangro para agradar você” (Thinking About You) e arremata “sinto que há algo errado / porque eu não consigo achar as palavras e eu não consigo achar as melodias / pare de murmurar / comece a gritar” (Stop Whispering).
Mesmo com tudo isso é em Creep - música que catapultou o Radiohead à condição de superbanda -, que Yorke se revela mais original possível, arrebata corações e mentes ao redor do planeta e que se identificariam com aquela mensagem emblemática: “Eu sou um verme, sou um esquisitão / Que diabos estou fazendo aqui? Eu não pertenço a este lugar”. Creep segue crescente, Thom mostra um vocal singelo, tenso e ao mesmo tempo potente, Jonny Greenwood e sua guitarra vão rasgando ao meio os anseios de alguém que quer apenas ser ou se sentir “especial”.
De um modo geral, Pablo Honey poderia ser considerado com um álbum que fala sobre autocomiseração (ou sobre como lidar com isso). Certamente o desejo do Thom foi atendido por suas músicas que tornaram a ele e seus companheiros de banda seres especial.
“So fucking special!!”