NOVO DISCO DO GENIO.
E RESENHA da rraaul
Four Tet - There is Love in You
Produtor inglês arranja emaranhado instrumental costurado por belas melodias
08.02.10 19:30
Já faz quase cinco anos desde que o produtor inglês Kieran Hebden lançou o último álbum de originais (o ótimo Everything Ecstatic) com seu projeto Four Tet. Pode parecer menos, já que o cara não saiu de cena graças a EPs e discos de colaborações (como Tongues, parceria com o baterista Steve Reid, de 2007). Mas para os que sentiam falta dos devaneios solo de Hebden, chegou o momento de se reencontrar com seus emaranhados de samples em There Is Love in Your, quinto disco de inéditas que sai pela Domino Records.
Mesmo os que não forem iniciados na sonoridade sonhadora do inglês podem se sentir em casa - se existe IDM pop, você a encontra aqui. Por obra de melodias envolventes e muitos vocais femininos, o resultado é oposto ao enfadonho, ainda que não haja uma única faixa que escape de uma estrutura linear.
Se o termo "eletrônica progressiva" não fosse tão genérico, poderia ser usado aqui num sentido mais estrito - uma progressão contínua que estimula a hipnose, o relaxamento... É difícil manter a mente na linha dos olhos com uma coleção de faixas tão transcendentais quanto "Circling" (trilha à altura de qualquer viagem intergaláctica) ou "Reversing" - que em seu minimalismo lembra um fluxo de água borbulhante.
E Hebden não lança mão de samples alienígenas (como fazem artistas da Warp) para alcançar esse efeito - ouvimos aqui o som de meias-luas, chimbaus, apitos... Sons que poderiam estar nos arranjos de qualquer outra canção mais tradicional, mas que aqui aparecem entrelaçados de maneira criativa e complexa.
O exemplo mais bem acabado desse esquema é a linda "Love Cry", que já foi lançada como single antes da chegada do álbum às lojas. Sua base percussiva é tão contagiante que se estende num solo com mais de quatro minutos antes da entrada de vocais e da linha de baixo. Com uma voz aveludada de mulher, o título da música é pronunciado ao infinito, se sobrepõe, se confunde...
Idem para a faixa de abertura, ainda que seu ritmo seja menos acelerado. "Angel Echoes" tem sinetas ecoando e um vocal melodioso recortado a seco no computador. Nem a quebra abrupta faz dele menos delicado, como todo o resto do arranjo.
"Plastic People" é outro momento memorável, com sua melodia que lembra as badaladas de um sino, soando bem no meio da cabeça. E parece que Hebden gosta mesmo de sinetas, como se ouve na (quase perturbadora) "The Bells", que encerra o disco - a sensação de espaço e tridimensionalidade é tão real que chega a causar calafrios.
Mas no conjunto, este é um trabalho que provoca sensações de leveza, como sugere a belíssima (de apertar o coração, mesmo) "She Just Likes to Fight". Mais que uma pilha de samples, há espiritualidade aqui; uma malha instrumental costurada pelo "om" místico e infinito - o som do universo reverberando entre linhas de baixo e bateria. Ouça There is Love in You pensando nisso. E cuidado para não se perder no caminho de volta.