Street Spirit

Radiohead atribui à canção um alto grau de profundidade, para além do percebido normalmente pela audiência. Thom Yorke, referindo-se a ela, expressou:
"'Street Spirit' é nossa canção mais pura, mas não a escrevi eu. Escreveu-se sozinha. Nós éramos simples mensageiros; seus catalizadores biológicos. Seu núcleo é um completo mistério para mim, e, já sabes, não voltaria a tentar escrever uma coisa assim sem esperanças. Todas nossas canções mais tristes têm em algum lugar um resquicio de firmeza. 'Street Spirit' não tem firmeza. É um túnel escuro sem luz ao final. Representa toda a emoção trágica que é tão doloroso que o som dessa melodia é sua única definição. Todos nós temos uma maneira diferente de entender esta canção. Chama-se indiferença. Especialmente eu; eu separo meu radar emocional desta canção, ou se não não poderia a tocar. Estallaría. Ou dar-me-ia algo em cena. Assim é como sua letra é um montão de mini-histórias ou imagens visuais opostas à explicação cohesiva de seu significado. Usei imagens junto com a música que pensava que podiam transmitir a entidade emocional da letra e a música ao ir juntas. Isso é o que significa 'all these things you'll one day swallow whole' (todas essas coisas que em algum dia engolir-te-ás inteiras). Referia-me à entidade emocional, porque não era capaz de articular a emoção. Estallaría...

Nossos fãs são mais valentes que eu ao deixar que a canção lhes penetre, ou quiçá não se dão conta do que estão a escutar. Não se dão conta de que 'Street Spirit' é a respeito de olhar fixamente ao puto diabo aos olhos, e saber que, sem importar o que faças, ele sempre rir-se-á o último. E isso é real, e verdadeiro. O diabo sempre rir-se-á o último em todos os casos, sem excepção, e se penso em isso durante muito tempo, estallaría.
Não posso achar que tenhamos fãs que possam tratar emocionalmente com esta canção. Isso é pelo que estou convencido de que não sabem de que trata. Por isso sempre a costumamos tocar para o final de nossos sets. Esvazia-me, e sacode-me, e dói como o inferno a cada vez que a toco, olhando como milhares de pessoas se riem e sorriem, alheios à tragédia de seu significado, como quando tens que sacrificar a um cão e está a mover o rabo de caminho ao matadero. Isso é o que parecem, e me rompe o coração. Oxalá esta canção não nos tivesse elegido como suas catalizadores, e não reclamo sua autoria. Pede demasiado. Eu não a escrevi".

Fonte: http://pt.wikilingue.com/es/Street_Spirit_(Fade_Out)

Que demais esse texto, valeu por postar, eu só ouvido falar sobre, nunca o tinha lido!
Realmente Street Spirit é inexplicável, dá uma tristeza imensa msm, uma incrível sensação de vazio!
Bom, mas é arte, então dá pra dizer que é linda!

demorei pra achar tbm hehe '

Bom, eu tenho uma estória muito tensa com Street spirit, já comentei com algumas pessoas daqui, quanto a declaração do Thom, ela realmente é um poço de esgotamento, uma perfeita escolha para terminar o Bends por ser um disco que flerta diretamente com o psicológico, emoções, enfim...Muito bom saber como ela foi produzida e a idéia que o próprio Thomas tem dela.

Provavelmente eu devo ir me afogar agora. Mesmo já tendo lido esse texto, eu sempre entendi e continuo vendo Street Spirit diferente de como vejo muitas das músicas do Radiohead, e completamente ao contrário do que o Thom disse.
O significado que ela tem, quando a ouço, é exatamente o da "luz no final do túnel". É a música que me diz "ande mais um pouco, vá em frente. isso ainda tem uma solução, não desista!".
Sempre soube que eu era louca...

AlanaWH escreveu:

Provavelmente eu devo ir me afogar agora. Mesmo já tendo lido esse texto, eu sempre entendi e continuo vendo Street Spirit diferente de como vejo muitas das músicas do Radiohead, e completamente ao contrário do que o Thom disse.
O significado que ela tem, quando a ouço, é exatamente o da "luz no final do túnel". É a música que me diz "ande mais um pouco, vá em frente. isso ainda tem uma solução, não desista!".
Sempre soube que eu era louca...

Você não é louca não Alana, o que o Thom disse é provavelmente a visão dele como "não escritor" da canção, e neste sentido ele se posiciona muito mais tranquilo e

talvez "neutro". Essa coisa de não escritor é muito interessante, seria como uma espécie de transe, como se ele a escrevesse livre de qualquer emoção própria, o

que não acontece nas outras canções e por isso o caráter de não firmeza, como diz o próprio subtítulo "fade out " de Street Spirit. O Engraçado também talvez

seria o caráter metalinguistico da canção, é como ela vê a si própria, como instrumento que não comunicará o que de fato é, e por isso desvanece...pela

incapacidade de se olhar diretamente nos olhos do medo, do diabo porque se o fizermos iremos sucumbir. Talvez tenha um pouco, ou muito de Nietzsche nesta

canção(tá, eu vejo Nietzsche em tudo xD) quando Thom fala em encarar o medo de frente e sucumbir, é uma das possibilidades que Nietzsche levanta em "Assim falou

Zaratustra", a alegria ou felicidade extrema seriam a outra possibilidade, isso é perceptível quando temos um grande problema a nossa frente: ou sucumbimos ou

passamos por ele e conhecemos o que é aquele sentimento de leveza e alívio extremo.Mas o Thom tem a visão pessimista da coisa quando fala que o Diabo sempre rir-

se no fim das contas...Quando ele fala que corajoso seria aquele que se entregasse a esta emoção, ele fala exatamente que seria aquele que assumiria o risco de

produzir esse resultado, e ele fala que não assume esse risco, por isso se livra de toda emoção ao tocá-la. Isso foi o que entendi da entrevista do Thomas.

Isso tudo é muito complexo, há quem duvide dessa imparcialidade ao escrever, no sentido de que nada se escreve sozinho sem que se tenha uma emoção mesmo que pequena ao se produzir algo, mas essa entrevista do Thom é muito rica, e não invalida nenhuma interpretação porque é a visão dele sobre a música, as demais visões como a sua Alana são extremamente válidas, sendo a arte um ponto de onde surgem várias possibilidades, tudo é sempre válido desde que se mantenha a essência da obra.

* eu já te disse que vc faz "errado" fazendo direito, né Thami Que legal sua crítica, puxa, sua análise análoga ao texto do Nietzsche foi muito bem sacada, daría uma tese incrível!


Eu diria que Alanna é louca sim, assim como o Thom, precisa "destoar" da lógica pra ser artista, achei bem legal o que ela escreveu, a coisa da inspiração se manifesta msm de formas diferentes em cada pessoa.

Eu tenho impressão que o Thom quis dizer que escreveu SS em "fluxo de consciências" aquele tipo de escrita em que alguns chamam de "primeiridade", ou seja, não passa por um equacionamento do autor, a primeira coisa que vem a mente, se escreve. Mas, nisso concordo com a Thami, tem não só a emoção como algo mais do autor sim, tbm acredito que tenha!

Ruth, talvez eu faça letras, sou apaixonada pela linguagem, não apenas como forma de comunicar mais pela forma como ela expressa dominação, jogos, estratégias, luta. Obrigada por ter comentado, eu sou apaixonada por Nietzsche, sem dúvidas é o meu filósofo favorito, isso eu não escondo. Isso que você falou sobre primeiridade é bem interessante, não? Não sei muito sobre semiologia, mas tive uma experiência(fora as frustradas no ensino médio) numa matéria chamada Direito e Linguagem. E a linguagem é algo instigante, fantástico mesmo...queria entender como se dá esse lance de escrever a primeira coisa que vem à cabeça, me parece algo que pode ser a qualquer momento contaminado com a intenção do autor. O Radiohead sempre trás questões ótimas, essa entrevista do Thomas é uma pérola mesmo!

Eh verdade, muito bem sacado, qdo for fazer letras é uma tese interessanto, tem algo de nihilismo mesmo na escrita do Thom!

Bom aqui no Brasil, mestra em escrita em fluxo de consciência, não por acaso é minha preferida, Clarice Lispector, tipo em Agua Viva, gringos tem James Joyce, Virginia Woolf e outros, gosto de todos eles!

Opa, Joyce é DEUS.

E a Clarice é deusa

* mas só uma coisa "esquecível", mas ainda não consegui, lendo tudo isso que o Thom diz sobre a canção, como se sente ao executá-la, lembrei do povo batendo palminhas em SS, no show do Rio, eu implorando "gente, por favor, não". Eu nunca tinha lido antes o texto, mas sabia que ele se emociona ao tocá-la!

Ahhh vc citou mestres, Ruth...Dentro da literatura escrita por mulheres, quanta coisa se perdeu, não é?...Virgínia ainda teve sorte ao ter nascido em uma família burguesa, mas quantas escritoras tiveram que se privar da sua identidade, assinar com pseudônimos masculinos, e o pior, abordar temáticas que sempre se reportavam a uma visão masculina de mundo... Uma colega fez um trabalho de pesquisa nessa área e levantou só no Brasil cerca de 100 escritoras esquecidas, ou melhor, não se pode esquecer aquilo de que nunca se tomou conhecimento. Dentre elas há o destaque para Carolina de Jesus. Carolina é conhecida no exterior, teve sua obra "Quarto de despejo" traduzida para 13 idiomas(por sinal essa obra me foi indicada, além disso ela é poetiza!)...Será que nós vamos ter sempre que esperar a legitimidade de um artista nacional pela opinião que vem de fora?...Ela publicou o livro "Quarto de despejo" na década de 60, negra, ex-catadora de papel e favelada, isso já diz bastante em termos de preconceito, principalmente no Brasil, país extremamente racista. Me pergunto quantos talentos perdidos, quantas vozes silenciadas, quantas histórias que não pudemos ler...Carolina foi descoberta numa favela, teve sua glória diminuída, quem a conhece aqui no Brasil? Pouquíssimos. Espero que isso termine algum dia e que escritores de verdade e não escritores de Best sellers sejam valorizados. Me pergunto como pode haver pessoas que compram livros como o da Bruna Surfistinha e o da mulher de Silvio Santos, entre outros. Sei que o que vem de baixo é por vezes tido como inferior, é diminuído..mas pegue um obra de Carolina e sinta a verdade viceral nas suas palavras, aí você entende o que é nascer mulher, pobre e negra...aí você entende melhor a dor do outro e talvez pense duas vezes antes de se reportar de uma forma grosseira em situações banais e cotidianas..enfim, fugi do tema mas só pq foram citadas a Clarice e a Virgínia, por sinal, brilhantes escritoras...

Muito bem colocado Thami, vale o protesto!

bom,parei de ouvir ela inteira por causa disso ae .-.

R.ಠ_ಠ escreveu:

bom,parei de ouvir ela inteira por causa disso ae .-.

sério???
não consigo ouvir pela metade nada, mas para mim a declaração do Thom não mudou o meu modo de ver essa canção...

thami escreveu:

R.ಠ_ಠ escreveu:

bom,parei de ouvir ela inteira por causa disso ae .-.

sério???
não consigo ouvir pela metade nada, mas para mim a declaração do Thom não mudou o meu modo de ver essa canção...

será q ele estava sendo ironico? .-. acho que não

R.ಠ_ಠ escreveu:

thami escreveu:

R.ಠ_ಠ escreveu:

bom,parei de ouvir ela inteira por causa disso ae .-.

sério???
não consigo ouvir pela metade nada, mas para mim a declaração do Thom não mudou o meu modo de ver essa canção...

será q ele estava sendo ironico? .-. acho que não

Esse é um dos problemas em ser irônico, quando você fala sério as pessoas ainda pensam que você está sendo irônico
Mas, acredito que não, é só uma declaração sobre o que significa esta canção para ele e como ela foi feita..enfim, coisas claras, sem muitas especulações encima disso.

Cara, eu acho essa música foda, mas não, eu nunca vi a letra com um olhar profundo. Tenho um amigo que fala que ouve essa música quando tá triste, pra ficar deprimido. Eu ouço ela e não sinto nada, eu acho ela bastante triste, mas sei lá. '-'

NathelieJulienne escreveu:

Cara, eu acho essa música foda, mas não, eu nunca vi a letra com um olhar profundo. Tenho um amigo que fala que ouve essa música quando tá triste, pra ficar deprimido. Eu ouço ela e não sinto nada, eu acho ela bastante triste, mas sei lá. '-'

eu sinto tristeza quando ouço essa musica...
mas gosto da composição

Músicas tristes me deixam feliz e ALGUMAS músicas felizes me deixam triste.

talvez se eu, triste, ouvir a Street, eu fique mais triste ainda.

mesmo se estou feliz , ouço essa musica e fico triste pq ela ( pelo o q eu sinto)
tem realmente um peso melancólico

eu já fiquei muito triste ouvindo Subterranean Homesick Alien, aí eu comecei a refletir sobre a letra, quando de repente percebi eu tava deprê.

Agora pouco eu tava assistindo o show deles no Glastonbury de 2003 e quando chegou em 2+2=5 eu lembrei do que o Thom disse sobre SS. Me surpreende como ele se abala emocionalmente com SS, mas consegue animar 100.000 pessoas e a si mesmo cantando "It's the devil's way now, there is no way out, you can scream it, you can shout, it's too late now" logo no início do show.